Comédia acima da média reúne
elenco estelar:
Aposentados britânicos que decidem visitar
Índia retratam recomeço da vida na terceira idade
Em “O Exótico Hotel Marigold”, se somarmos a idade dos sete
veteranos atores principais, chegamos a um coeficiente de impressionantes 474
anos. A informação pode parecer inútil mas, quando se trata de alguns dos maiores
astros britânicos do cinema, experiência e talento de uma longa estrada frente
às câmeras fazem toda a diferença.
Dirigido pelo também
britânico John Madden (do insosso vencedor do Oscar “Shakespeare Apaixonado”),
“O Excêntrico Hotel Marigold” é baseado no romance “These Foolish Things”,
de Deborah Moggach, uma das responsáveis pela adaptação do romance “Orgulho e Preconceito”,
levado às telas no bem-sucedido longa protagonizado por Keira Knightley.
Acompanhamos a história
de sete personagens aposentados que decidem fazer uma viagem à Índia, onde
ficarão hospedados no hotel que dá nome ao filme: Evelyn (Judi Dench) que, após
a recente morte do marido e a venda do apartamento onde moravam para quitar as
dívidas deixadas pelo morto, se recusa a morar com o filho; Muriel (Maggie
Smith), uma senhora ranzinza e preconceituosa que,
necessitando de uma cirurgia de emergência, é aconselhada a ser operada naquele
país; o casal Douglas (Bill Nighy) e Jean (Penelope Wilton), já desgastado por
tantos anos de convivência. Completando o time temos Graham (Tom Wilkinson),
um ex-advogado que convive há décadas com a história de um amor impossível do
seu passado vivido na Índia; Norman (Ronald Pickup) e Madge (Celia Imrie), que
não perderam as esperanças de encontrar alguém para passar tempo que ainda lhes
resta, seja para uma vida a dois ou para redescobrir o prazer do sexo.
Com tantos personagens
diferentes em suas experiências de vida e personalidades, o prólogo de “O
Exótico Hotel Marigold” nos apresenta, pontualmente, às principais
características de cada um deles. Seja o luto da viúva Evelyn e o medo de ser
um fardo na vida de casado do filho, o preconceito de Muriel com qualquer
pessoa que não seja branca e inglesa ou a libido de Norman, que se recusa a
assumir a própria velhice, aproveitando o que ainda lhe resta de tempo para se
divertir.
Ao chegarem no hotel,
administrado pelo jovem Sonny (Dev Patel, de “Quem Quer Ser um Milionário?”), o grupo percebe que a
propaganda de ser um luxuoso recanto de alma inglesa está, na verdade, caindo
aos pedaços. Sonny, no entanto, une todas as forças que tem para recuperar o
legado do hotel deixado por seu pai. Porém, terá de bater de frente com a
conservadora e rígida mãe (Lillete Dubey), que também é contra o casamento dele
com a jovem Sunaina (Tena Desae).
A chegada à Índia fará
com que cada personagem se aproxime cada vez mais, enfrentando – ou se
refugiando – de todas as diferenças que envolvem as díspares culturas: caos,
pobreza, fé, culinária, poluição, clima, entre tantos outros. E o convívio dos
acolhedores e solidários indianos será capaz de quebrar a barreira dos
reservados britânicos em um filme que toca de forma delicada e sincera em temas
como morte, solidão e amizade, além da chegada à velhice aliada ao confronto
direto com o próprio passado, presente e futuro.
Graças ao ótimo roteiro
e com drama e humor na medida certa, “O Exótico Hotel Marigold” é um agradável
presente àqueles que anseiam por uma boa história, com personagens bem
construídos e diálogos afiadíssimos, favorecidos pela edição, que faz com que o
filme não perca o ritmo um momento sequer. Esmiuçando os locais menos
conhecidos da Índia, o filme é quase um road movie pelo
país, expondo um caleidoscópio de cores e costumes que permeiam os dramas que
envolvem os sete personagens.
Politicamente falando,
o longa ganha ainda mais créditos ao nos colocar diante de britânicos e
indianos convivendo em harmonia. Afinal, o passado recente da colonização
britânica na Índia, que durou quase um século de conflitos (1858-1947) e que
teve como grande peça o líder Mahatma Gandhi, deixou a relação entre as nações
abaladas desde então. A ideia de mostrar personagens diferentes que acabam por
descobrir mais um sobre o outro já rendeu numerosas obras, mas “O Exótico Hotel
Marigold” faz isso com uma qualidade acima da média.
É impossível não se
encantar com a beleza e talento de Dench, que mostra que é possível recomeçar
após perder um companheiro de uma vida toda. Ou mesmo o humor afiado de Smith,
que rende as melhores piadas com seu jeito adoravelmente mal-humorado e
orgulhoso. Já Imrie, como a espevitada Madge, e Pickup, como o assanhado
Norman, também rendem cenas hilárias de cunho sexual. Nem mesmo o conflito mais
denso do casal Douglas e Jean, a meu ver, conseguem arrancar o título de feel-good movie desta obra.
Apesar de se apressar
no seu epílogo, criando situações precipitadas, o longa consegue unir um grupo
de lendas do cinema britânico com uma história que, além de encantar os mais
velhos, mostrará aos mais novos que chegar à terceira idade não é somente
esperar a chegada do fim mas, sim, correr atrás de um novo começo.
Trailer disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=XWG6bGJ4QPw
Fonte:
Léo Freitas via Cinemacomrapadura.com.br
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